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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Depressão Natalina: O Outro Lado do Natal

É impossível ignorar. Basta ligar a TV, o rádio, ler o jornal ou até mesmo andar pelas ruas da cidade, para perceber que nesta época do ano o ambiente adquire novas nuances. Ruas iluminadas, vitrines e jardins decorados, lojas e shoppings abarrotados. Em quase todo o mundo, a população frenética entra num processo coletivo de planejamento para as comemorações de Natal e Réveillon.

Mas não é só agitação e folia que permeiam a época festiva. O encerramento do ano, como é de praxe, convida todos a um tempo de reflexão sobre a vida e o ano que passou. Goste ou repudie as festas natalinas, não há escape. Refletir é quase uma imposição da cultura midiática. Como num fechamento de contas, o mês de dezembro pede um balanço geral de entradas e saídas. Nesta contabilidade silenciosa, em que pesam a situação dos relacionamentos familiares, afetivos, as condições socio-econômicas do lar, saúde, metas, satisfação pessoal e profissional, alegrias e frustrações se evidenciam. E, como a vida nem sempre corresponde ao ideal de felicidade almejado, para milhões de pessoas a época “supostamente” mais feliz do ano pode ter significância justamente contrária.

Jonatan Beiertorf, 22 anos, é exemplo disso e compartilha com Enfoque alguns de seus olhares sobre a época do Natal. ”Basta que as lojas e shoppings comecem a expor a decoração natalina para que a melancolia venha à tona. Sinto uma angústia apertando meu peito. Um vazio existencial. Tenho vontade de ficar trancado em casa, sozinho”.

Beiertorf atribui sua quase repulsa pelas ocasiões festivas às lembranças da mesa escassa e da embriaguez de seu pai. “Em quase todas as festas de fim de ano, recordo com facilidade de uma cena: na casa de meus amigos, a família reunida, alegre, muitos presentes ao redor da árvore e a mesa repleta de doces, perus, amêndoas e passas. Em minha casa, presentes baratos e uma ceia bem simples, sem qualquer requinte ou fartura”. Para completar, ele declara que seu pai costumava beber já na manhã das vésperas, e quando chegava a virada, estava totalmente embriagado.

Para a psicóloga e psicanalista Karin Wondracek, professora das Faculdades EST (RS), “a idealização da festa ou da família tem sido o caminho mais fácil para que um indivíduo experimente os sentimentos depressivos”.

Diversas pesquisas na área da Psicologia mostram que o ser humano tem a tendência natural de avaliar-se, tomando por modelo pessoas que estão em uma situação – social, econômica ou até estética – “melhor”, prática esta conhecida por ”comparação ascendente”, que inevitavelmente provoca insatisfação. Aliado a isso, tem-se também o capitalismo que, de modo incessante, prega o bem-estar emocional como produto de consumo a ser adquirido nas prateleiras das melhores lojas.
Essa filosofia coloca a felicidade num patamar sempre acima daquele em que o indivíduo está, tornando-a inatingível. Desse modo, pessoas que têm o suficiente para viver uma vida agradável se comparam a outras em níveis sociais mais elevados, e assim sucessivamente, numa recorrência quase sem fim, onde a insatisfação é resultado final porque exige-se das pessoas uma superação de limites quase diária, estabelecendo, assim, uma competição contínua que possibilita o crescimento, mas também provoca fadiga, estresse e até depressão.

Estatísticas

Na América Latina não há pesquisas que mostrem estatísticas precisas de quantas pessoas demonstram sentimentos de ansiedade durante a época festiva. Porém, nos países do Hemisfério Norte, como Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, entre outros, estima-se que cerca de 56% da população considere o Natal um período muito estressante, e aproximadamente 60% manifeste solidão.

A constante transformação da sociedade pode oferecer uma boa resposta para esse índice cada vez mais elevado de pessoas que se sentem isoladas. Enquanto a mídia impõe um ideal de festa em grupo, onde a família unida, abastada e feliz, troca presentes e se farta com ceias suntuosas, o mundo apresenta um panorama completamente diferente, em que o coletivo desaparece e o individual se sobressai.

Um pequeno fragmento dessa mudança pode ser observado através do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que revela, entre 1991 e 2000, um aumento de 70,5% de pessoas solteiras, viúvas, separadas ou divorciadas que passaram a morar sozinhas. De 2005 para 2006, esse número aumentou ainda mais, ultrapassando a casa dos 6 milhões. No Reino Unido, a soma já superou o número de famílias e, nos Estados Unidos, 25% das casas têm apenas um morador.
O que para muitos é visto como um privilégio, para outros, sobretudo em datas festivas, pode ser uma desilusão. Grande parte daqueles que, por algum motivo, não podem passar as festas com a família, também compartilha de sentimentos de repulsa pelo Natal. Esse número aumenta ainda mais entre pais separados. Para cerca de 50% dos casamentos que terminam em divórcio, o Natal pode ser um verdadeiro pesadelo.

S. Mendes, 44 anos, administrador de empresas, pai de duas filhas e divorciado há quase 6, revela seus sentimentos. “Desde que me separei, passei a odiar o Natal. Nessa época, só de ver uma criança acompanhada dos pais, caminhando no shopping, sinto uma espécie de culpa e opressão. Mesmo que eu passe todas as semanas com minhas filhas, se no Natal ou Réveillon elas estiverem distantes de mim, a angústia se manifesta como se nossos encontros do ano inteiro fossem apagados”. Mendes admite, ainda, que em alguns momentos a solidão foi tão grande que acabou recorrendo ao álcool como válvula de escape. O que ele desconhece é que o álcool não anestesia a dor, mas estimula ainda mais a ansiedade.

Os Perigos da depressão natalina

A depressão de Natal, ou Blue Christmas, como é conhecida nos países de língua inglesa, pode ser considerada irrelevante em função de sua característica transitória e sazonal. Afinal, frustrações fazem parte da vida de qualquer pessoa e, muitas vezes, possuem resultados até positivos. No entanto, o que poucos sabem é que a parte submersa desse iceberg é bem mais perigosa do que se pode imaginar. Para aquelas pessoas que já estão em depressão profunda – e elas representam 340 milhões em todo o planeta – Natal e Ano Novo podem ser a gota d’água para o suicídio.

De acordo com a instituição nacional CVV (Centro de Valorização da Vida), uma associação civil de natureza filantrópica que oferece serviço voluntário de apoio emocional – gratuito e sigiloso – a todas as pessoas que necessitam falar sobre suas dificuldades, só no ano de 2006 mais de 1 milhão de pessoas foram atendidas. Um número que desde 1994 tem crescido cerca de 10% a 20% ao ano e, segundo a voluntária Conceição, do CVV de Porto Alegre, RS, tem seu pico por ocasião do Natal.
Por telefone, Conceição diz que nessas datas as pessoas se sentem solitárias, saudosas, tristes, lembram dos entes queridos, às vezes estão desempregadas, endividadas, encontram-se longe dos familiares etc., e, devido à época, recorrem aos serviços do CVV”. Preocupada com as estatísticas de suicídio que não param de crescer, Conceição afirma: “Sabemos que isso pode ser mudado e, para tanto, estamos empenhados em abrir novos postos de atendimento, oportunizando a expansão desse trabalho”.

Dona Elza Lopes, 51 anos, cristã e moradora da Vila Umbú, em Alvorada – a cidade que registra os maiores índices de violência do Estado do Rio Grande do Sul – sabe bem o que é isso. Mãe de 13 filhos, 2 deles (24 e 16 anos) recentemente assassinados, conta que o marido, engraxate, tem depressão profunda e já tentou se matar por três vezes. Uma delas na época do Natal. Segurando a filha de 2 anos no colo, Vitorinha – como chama a menina, que tem taquicardia e síndrome de Down – ela enfia a mão em um buraco do sofá e revela o esconderijo onde fica guardada a sacolinha de ansiolíticos que seu companheiro recorre sempre que tenta dar fim à própria vida.

Questionada sobre como se sentia na época do ano em que o mundo se enfeita para as comemorações de Natal e Réveillon, Elza tenta conter as lágrimas para aparentar força em frente às filhas Valéria e Vanusa (8 e 9 anos), que assistem atentas ao seu depoimento: “O senhor pode até pensar que eu sou forte, mas não sou”, diz ela, agora em prantos. “Eu não acredito em nada. Sou uma pessoa que vive só por viver. A noite de Natal, para mim, é a mais triste do ano. Ficamos todos encerrados dentro de casa. Nessa época, minha tristeza dobra. Desde que me casei, nunca tive um Natal bom. Tem momentos em que tenho vontade de sumir. Daí eu saio, sento na calçada e penso na Vitorinha. Ela precisa de mim. É só isso que me faz continuar a viver”.

O Papel da Igreja

Diante de depoimentos como esse, surge o inevitável questionamento: e a igreja, o que tem feito para proporcionar um fim de ano mais digno a essas pessoas? Todos sabem que o Natal “simboliza” o nascimento de Cristo e que o mundo deturpou o seu real sentido. Essas constatações, porém, não preenchem o vazio existencial que a cultura secular natalina impõe, sobretudo entre os mais necessitados.

Pastor Fábio da Veiga, responsável pelo trabalho social da Igreja O Brasil para Cristo da Vila Umbú/Alvorada, RS, onde cerca de 30% da congregação é formada por pessoas extremamente carentes, declara: “O que estamos tentando fazer é um evangelismo mais prático, de ajuda efetiva ao próximo. Além de conseguirmos alimentos e vestimentas para muitas famílias, também procuramos saber qual o sonho dessas pessoas. Alguns gostariam de ter um piso que não fosse de chão batido, outros de ter um banheiro, a casa pintada ou até rebocada. Então a gente avalia as necessidades e, através de recursos doados por outros irmãos, compramos os materiais e executamos as obras em sistema de mutirão. Acho que não só especificamente no Natal, mas no ano todo, tem sido um desafio levarmos mudança de vida a essas pessoas”.

Márcia Roque, relações-públicas da Casa Lar Emanuel, um abrigo evangélico que sustenta aproximadamente 600 internos e depende de doações para sobreviver, avalia que a igreja tem ajudado, mas ainda de forma muito acanhada. “É uma pena que grande parte dos cristãos só se lembra dos necessitados nesta época do ano“, diz Nara Ulguim, presidente do abrigo, fundado por seu pai, pastor Araudo Ulguim, há 35 anos. Para elas, que convivem diariamente com os necessitados, o melhor presente que eles podem ganhar e qualquer um pode dar é dedicar um pouco de tempo para dialogar com eles, distribuindo amor, carinho e muitos abraços. Isso, certamente, faz a diferença.
Depois de conversar com três crianças internas da instituição, Pedro, 12, Diogo, 9, e Juliana, 8, irmãos que moravam em um barraco, passaram fome, foram maltratados e por fim abandonados pela mãe há cerca de quatro anos, Enfoque pôde concluir: não há trauma que não possa ser superado. Não há Natal em que seja impossível encontrar um motivo para se comemorar. Pedro, Diogo e Juliana não querem nenhum presente. Garantem que a vida que levam é muito feliz. Este ano eles só querem agradecer a Deus. E arriscam um recado àquelas pessoas que se entristecem por não terem suas vidas do jeito que gostariam: “Elas têm tudo. Têm onde morar, não passam fome. Por que ficar triste? Isso é motivo para ficar feliz”.

Um grande Natal talvez não seja aquele idealizado, com presentes caros ou uma situação econômica maravilhosa. A felicidade nunca será atingida se for conduzida pelo consumo e o individualismo. Como disse Karl Marx, em 1844, “os maiores homens são aqueles que se enobrecem trabalhando pelo bem comum; a experiência aclama como mais feliz aquele que tornou feliz o maior número de pessoas”.

Portanto, neste Natal, aja diferente. Não apenas deseje, mas faça ao próximo algo para torná-lo mais feliz. Lembre-se de que um gesto de amor não custa nada. Convidar alguém solitário para passar as festas em sua casa, por exemplo, não lhe tornará mais pobre. Dessa forma, com uma maior percepção das carências de outras pessoas, o valor do nascimento de Cristo estará sendo reconhecido e a performance natalina cristã não será apenas demagogia, mas uma ação concreta de abnegação, solidariedade, compaixão e afeto. É isso que faz acontecer um feliz Natal.


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