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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Futebol, uma nova liturgia da velha idolatria

Ao analisar o capitalismo como religião e as diferenças entre a consagração, a secularização e a profanação, o filósofo italiano Giorgio Agamben menciona alguns aspectos relacionados aos jogos. Mesclando essas divagações ao contexto histórico, algumas conclusões podem ser tiradas a despeito do futebol (soccer) ser aclamado o esporte das multidões.

A Folha de S. Paulo de 7 de abril passado enaltecia o feito do argentino Lionel Messi no dia anterior, quando assinalou quatro gols sobre o Arsenal, da Inglaterra, e ajudou a classificar o Barcelona para a semifinal da Liga dos Campeões: "90 mil torcedores reverenciando um gênio... Messi é um jogador de play station", exagerava o repórter. A imagem do jogador com as mãos levantadas e sentado no gramado ao lado da bandeirinha de escanteio se completava à da massa torcedora, também com as mãos levantadas, como em adoração ao craque do time catalão. Enquanto os milhares de fiéis o idolatravam, ele os abençoava. O quadro litúrgico de uma cerimônia estava completo.

Historicamente, as práticas com bola se reservavam às elites, principalmente aos cerimoniais religiosos e idolátricos. No império maia, por exemplo, o ullamalizth se destinava a selecionar quem afinal deveria ser sacrificado. Os derrotados, em geral inimigos de guerra, perdiam a cabeça, que se transformava no objeto de continuidade do "jogo". Os embates duravam, às vezes, dias, semanas, tamanho era o desespero na tentativa de sobrevivência. Aos vencedores também cabia o direito de escolher se gostariam ou não de oferecer o sangue em sacrifício pela divindade. A pelota de borracha simbolizava o sol. Aos homens competia a obrigação de não permitir que ela parasse de circular pela arena, mas que continuasse girando, como se o homem tivesse poderes transcendentes até mesmo sobre o objeto de culto. Agamben revela que "jogar com bola reproduz a luta dos deuses pela posse do sol".[1]

Transportando esse contexto para o rito futebolístico da contemporaneidade, o jogo oculta, segundo Agamben, uma forma de uso da esfera do sagrado, denominada de profanação. No entanto, ao conservar intactas as forças do sagrado, assegurando o poder terreno, passa-se ao processo de secularização do ritual idolátrico. A secularização é o simulacro da profanação. A bola continua com o mesmo poder fetichizante que tomou conta da cultura pós-moderna.[2] Aos jogadores se concederam poderes divinos, de deuses imortais, o direito a jogadas magistrais. Todavia, ao cometerem falhas, revelam-se como semideuses, em parte humanos, mortais, merecedores da execração pública por falharem na missão e se colocarem no mesmo nível dos "adoradores". De heróis divinizados, passam a gladiadores escravizados nas arenas multimidiáticas. Afinal, eles se encontram sob os olhares de uma nova liturgia, a comandada pela mídia eletrônica. Tudo isso reflete uma tentativa enrustida de voltar à religião idolátrica. E a rede de dispositivos mediáticos sustenta as forças de poder da religiosidade. A verborragia usada, indevidamente, pelos âncoras do esporte, repórteres, comentaristas, condiciona o público que se alimenta nessa liturgia à contextualização de uma missa ou culto.


Autor:
Ruben Holdorf

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